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23/12/2024
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18/10/2023
As cidades são locais ótimos para se viver… especialmente se fores um carro.
Ironias à parte, esta descrição encaixa perfeitamente na forma como as nossas cidades se desenvolveram ao longo do último século. Com mais de 60% do espaço público dedicado a infraestruturas para automóveis, as cidades tornaram-se um lar para os carros que nelas circulam… em vez de serem casas para as pessoas que lá vivem.
Para perceber como é que as pessoas se podem sentir em casa nas suas cidades, falámos com uma arquiteta, urbanista e mãe de quatro filhos, Yoko Alender.
A nossa última campanha foca-se na ideia de que nos devemos sentir em casa nas nossas cidades, ou seja, que não tenhamos a sensação de estar num corredor de cimento, mas numa sala confortável. O que é que achas que nos faz sentir em casa nas nossas cidades?
Em casa, sentimo-nos seguros, confortáveis e à vontade. Sabemos instintivamente como estar e o que fazer. O espaço ajuda-nos a ser nós próprios e a fazer as nossas coisas.
Os espaços públicos também deviam ser intuitivos. Deviam dizer-nos o que fazer e como nos comportar: aonde devemos ir, onde devemos andar e onde nos podemos sentar — tendo sempre em conta a nossa segurança. E tal como as salas de estar nos aproximam, os espaços públicos deveriam convidar à união e à interação.
Quais são os principais factores que fazem com que uma cidade seja uma casa para as pessoas?
O urbanista dinamarquês Jan Gehl definiu muito bem os critérios de qualidade nos espaços urbanos. O truque é atender às necessidades humanas fundamentais:
1) Segurança — desde o trânsito, ao ruído e poluição sob todas as formas;
2) Conforto — uma variedade de lugares para brincar, andar e sentar;
3) Agradabilidade — vistas, espaços verdes e bons detalhes arquitetónicos.
“As ruas devem ser seguras. É suposto eu falar com a minha amiga e conseguir ouvi-la enquanto andamos. O espaço deve estar adaptado às pessoas, não deve ser confuso nem fazer-me sentir pequena e insignificante.”
O espaço também deve ter uma identidade — qualquer coisa que faça dele o teu bairro. Talvez exista um local com uma vista agradável ou um cheiro familiar, como o da padaria que existe há anos, ou um novo parque infantil por descobrir.
Se nos basearmos nesses critérios, ficamos com a ideia que não dá para nos sentirmos em casa na maior parte das cidades. Porque é que isso acontece?
Historicamente, as cidades foram feitas à escala humana. Grande parte da vida da comunidade, como a partilha de notícias ou o comércio, acontecia nas ruas e nas praças. As estradas foram criadas para andar e a sinalização era lida a 5 km/h.
Mas depois vieram os carros, que andam a 50, 60, 90 km/h. Isto obrigou a redesenhar as ruas porque o olho humano perceciona as coisas de outro modo dentro de um carro em andamento (pensa no tamanho dos sinais do trânsito, por exemplo). Além disso, o nível de ruído e a sensação de insegurança que apareceram com os carros também obrigou as pessoas a adaptarem-se.
Quando as ruas não são feitas a pensar no ser humano (na qualidade de peão), é impossível olharmos para a cidade como um prolongamento da nossa sala de estar.
Contornar carros, um dia normal na vida dos ciclistas.
Como é que as câmaras municipais podem garantir que os cidadãos se sentem em casa nas cidades?
Tem tudo a ver com a organização dos aspetos básicos do quotidiano.
O meu filho tem vaga no jardim de infância mais perto de casa? Consigo ir para lá a pé e encontrar vizinhos no caminho? Há um parque infantil nas redondezas?
Há alguma padaria ou café nas redondezas? A paragem de autocarro mais próxima é um sítio agradável para falar com as pessoas enquanto espero?
Estas coisas definem a nossa qualidade de vida e, claro, se nos sentimos em casa ou não.
Que influência têm os transportes e a mobilidade na hora de criar uma cidade onde as pessoas se sintam em casa?
No que diz respeito à mobilidade, eu acredito na flexibilidade. Posso precisar do carro num dia e, no outro, preferir o metro. Ou posso querer andar de bicicleta ao ar livre na semana que vem.
Nas cidades grandes, podemos sempre escolher entre diferentes tipos de transporte e a decisão pode depender entre querer aproveitar a vista ou chegar ao destino mais rapidamente. As pessoas que não têm passe devem poder comprar bilhetes facilmente encostando os cartões ou os telemóveis aos torniquetes, em vez de terem de fazer fila para as máquinas de pagamento.
Tal como nas nossas casas, também queremos que o ambiente à nossa volta seja apelativo. Os transportes públicos também podem ser bons e oferecer uma boa vista, como os autocarros de dois andares em Londres!
O planeamento do trânsito, das ruas, dos sinais e de outros detalhes pode contribuir para a identidade de uma cidade e torná-la mais reconhecível, mais como a nossa casa.
Uma bicicleta de carga por dia, nem sabe o bem que lhe fazia.
Há cada vez mais iniciativas organizadas pelas comunidades para tornar as áreas urbanas mais apetecíveis para as pessoas. Quais são as tuas favoritas?
A primeira iniciativa que me vem à cabeça é a New York parklet. Mas, em Tallin, de onde sou, acho que os festivais locais de Uue-Maailma e de Kalamaja ajudaram a unir as pessoas e a desbloquear as ruas de formas diferentes. Puseram uma mesa comprida na rua e toda a gente chamou as famílias e os amigos para um jantar comunitário.
***
As nossas cidades deviam ser cidades para pessoas e não só para carros. A mobilidade partilhada pode ajudar a reduzir o número de carros nas nossas ruas e a devolver algum espaço às pessoas.
Lê mais sobre a campanha “Estar em casa” para ver como é que as pessoas se sentem numa boa cidade.